top of page

Uma aldeia, uma família

  • Foto do escritor: Catarina Reis
    Catarina Reis
  • 15 de jan. de 2023
  • 4 min de leitura

No interior de Portugal, rodeada de serras, existe uma pequena aldeia que tenta manter as tradições mais antigas.


Sobrainho da Ribeira, no concelho de Castelo Branco, é uma pequena aldeia com cerca de 25 habitantes (onde 10 são imigrantes), que preza as mais antigas tradições. No meio de tantas casas são poucas as que têm luzes acesas todos os dias. As gerações mais velhas optaram sempre por ficar e, aos poucos, foram vendo as mais jovens a partirem para as cidades. Espalhados pelo país, ou até mesmo no estrangeiro, em épocas como o Natal e a Páscoa, os mais jovens regressam à aldeia para manterem vivas as tradições.

A esta aldeia chegam imigrantes de países como Inglaterra, França, Holanda e Bélgica.


Com uma escola primária a funcionar até ao fim da década de 80, os moradores do Sobrainho da Ribeira viram-na fechar por falta de alunos. As crianças passaram a ter aulas nas Sarzedas, sede de freguesia, ou em Castelo Branco e, em ambos os casos, tinham de fazer um quilómetro a pé, ao nascer do sol, para puderem apanhar o autocarro.

Com a inatividade da escola, os habitantes optaram por dar uma nova vida a um espaço que estava fechado. As pessoas da aldeia juntaram-se, em parceria com a Câmara Municipal de Castelo Branco, e, após um protocolo, fizeram obras para tornar a atual sede da Associação para o Desenvolvimento e Progresso do Sobrainho da Ribeira, num espaço mais acolhedor. Em meados da década de 90, os residentes da aldeia tomaram a iniciativa de criar a tradição de fazer uma festa na Páscoa.


Para além de se juntarem para a festa da aldeia, o povo desta terra une-se para celebrar o Natal e manter as tradições. A recolha dos madeiros para a fogueira é um dos dias obrigatórios no Sobrainho da Ribeira. Em dezembro, geralmente a um sábado, as pessoas que estão fora da aldeia regressam e juntam-se para recolher a matéria-prima para aquela que será a fogueira de Natal da aldeia. Este acaba por ser um dia de convívio e de união para toda a aldeia.


Luís Henriques, atualmente residente em Castelo Branco, é o presidente da associação da terra que o viu crescer. Luís defende que, nesta altura do ano, é sempre importante regressar e fazer com que as tradições se mantenham: “É muito importante convivermos todos uns com os outros. Para a aldeia é o fundamental.”

A recolha dos madeiros é uma iniciativa de todos, e já se tornou um hábito para esta aldeia: “A comunidade junta-se para fazer os madeiros e, depois na associação, a gente junta-se para beber uns copos e confraternizar.”


Arlindo Lourenço fez da terra da sua esposa a sua segunda casa. Atualmente, é uma das pessoas que se desloca ao Sobrainho da Ribeira para passar a noite de Natal. Como todos os membros da aldeia revela: “Acho importante manter as tradições.” A recolha dos madeiros para a fogueira do dia 24 de dezembro é, na sua perspectiva, um dos pontos importantes nesta altura: “Acho importante a recolha dos madeiros e mais ou tão importante o convívio.”


Na noite de Natal, o povo reúne-se na sede da associação para acender a fogueira e passarem uma noite de convívio. Esta altura do ano é sinónimo de reencontro para muitos familiares e amigos, que ao longo do ano nem sempre têm a possibilidade de se juntarem. Este ano, a fogueira foi acesa por volta das 22h00, no mesmo sítio dos anos anteriores. Nas traseiras da associação, crianças que hoje são adultos, e alguns já com filhos, veem a fogueira e recordam os velhos tempos.


Paulo Lourenço, residente em Castelo Branco, regressa todos os anos à sua aldeia para “passar o Natal com a família o mais unida possível, para juntar a família, o que nem sempre é fácil por causa do trabalho”. Paulo sente que a noite de Natal é um momento para “esquecer os problemas e estar com alegria” e “para manter a tradição das aldeias, de unirem os familiares ao redor da fogueira, com a união dos familiares e amigos”.


Durante a noite, algumas pessoas descem da aldeia até junto da ribeira, onde está o “Retiro das Adegas”, uma rua onde, apesar de não existir eletricidade, estão todas as adegas da aldeia. Luís Henriques refere que, nesta altura do ano, “vem-se à adega, prova-se o vinho” e o povo junta-se “em comunidade e amizade, que é o essencial”.

Para muitos, este é um dos melhores momentos da noite, uma vez que, para além de provarem o vinho, vão todos juntos até às adegas e cantam músicas ao menino Jesus.

Paulo David reforça os momentos mais marcantes da noite: “O principal é ver a família unida e a alegria das pessoas à volta da fogueira de Natal, por exemplo acender a fogueira, cantar ao menino Jesus e ir às adegas.”


Para além de ser um momento degustativo, no que diz respeito ao vinho, a ida às adegas é acima de tudo um momento de convívio e partilha, onde ninguém cobra nada a ninguém e partilham tanto a bebida como a comida. Nestes dias, não existem problemas entre as pessoas, todos são como uma família.


É junto à fogueira que as pessoas passam a noite e esquecem os problemas, as crianças correm e brincam e a idade não importa.

Arlindo Lourenço descreve o Natal no Sobrainho da Ribeira como “um bom convívio”, reforçando: “Aliás mais do que um, é o dia da recolha dos madeiros e o dia de deitar o fogo aos madeiros.”

Nesta aldeia, o povo é uma família, demonstram união e partilha.


06 de janeiro de 2023

Comments


© 2023 por Catarina Reis. Criado orgulhosamente com Wix.com

bottom of page